Quando o assunto é matemática, os estudantes estão enfrentando dificuldades.
A recente avaliação nacional destacou isso ao revelar que 24% dos alunos do quarto ano ainda apresentam desempenho abaixo do nível básico em matemática, além de evidenciar uma desigualdade crescente no desempenho em todo o país. Outras avaliações — como o PISA, focado em pensamento crítico — também apontaram uma queda nas habilidades matemáticas.
A lista de explicações vai desde uma cultura que evita a matemática até as dificuldades das escolas em contratar e manter professores talentosos, tarefa que parece ter se tornado ainda mais difícil após a pandemia. Mas, certamente, os professores não estão sendo bem preparados para o sucesso.
Agora, um novo relatório sugere que os programas de formação de professores dão pouca ênfase ao ensino de matemática no nível do ensino fundamental. Apenas um em cada oito programas oferece aos professores tempo suficiente para aprender o conteúdo matemático que irão ensinar, segundo estudo recente do National Council on Teacher Quality, que analisou mais de 1.100 programas de formação de professores em todo o país.
Segundo Heather Peske, presidente do conselho, a instrução inadequada compromete os esforços dos alunos para aprender matemática antes mesmo de entrarem em sala de aula.
Isso tem consequências.
As habilidades matemáticas iniciais estão associadas a maior alfabetização e rendimentos futuros mais altos. Mas muitos professores do ensino fundamental não se sentem confortáveis com a matemática — o que pode ser repassado aos alunos. Isso é particularmente problemático porque, nesse nível, os alunos podem ficar para trás, desenvolver aversão à matemática e ter dificuldades para recuperar o conteúdo.
No entanto, alguns programas formam bem os professores, e seguir o exemplo desses programas pode ajudar a melhorar o desempenho dos estudantes, afirma Peske.
Outros argumentam que a questão é mais complexa. Como as escolas têm dificuldade para manter professores, muitos adultos em sala de aula atuam com credenciais emergenciais — ou seja, não passaram pelos programas de formação. Além disso, alguns especialistas acreditam que talvez seja hora de uma reformulação maior na abordagem dos programas de formação.
Alunos demais ficaram para trás em matemática, e os programas de formação de professores podem ajudar a mudar esse cenário, afirma Peske.
A organização de Peske descobriu que a maioria dos programas de formação de professores do ensino fundamental não dá aos futuros professores tempo suficiente para desenvolver conhecimento matemático. Especificamente, os cursos de graduação geralmente falham ao não dedicar tempo necessário para que os professores compreendam conceitos como números, operações e pensamento algébrico — áreas-chave da matemática nesse nível. Surpreendentemente, os maiores problemas foram encontrados nos programas de pós-graduação, que apresentaram desempenho ainda pior que os de graduação, mesmo preparando professores para o mesmo cargo. O relatório deu nota “F” a 84% dos programas de pós que formam professores para ensinar matemática no ensino fundamental. Em média, esses cursos ofereciam menos de um crédito, ou cerca de 14 horas de instrução, sobre conteúdos matemáticos fundamentais.
Professores do ensino fundamental precisam ser generalistas e não podem se dedicar apenas à matemática. Muitos não entram na profissão por amor à disciplina e nem sempre possuem uma base sólida na área, dizem especialistas.
Garantir que esses profissionais tenham conhecimento suficiente da matemática e saibam ensiná-la antes de entrar em sala é um desafio delicado.
Especialistas questionam se melhorar os programas de formação é suficiente, já que alguns professores nem chegam a frequentá-los. Escolas pressionadas a contratar têm recorrido a certificações alternativas e autorizações emergenciais, que colocam professores em sala mais rapidamente, mas com menos exigências.
Mesmo entre os professores com formação, a situação não é simples.
Professores do ensino fundamental precisam aprender diversas disciplinas, e os programas de formação contam com cerca de 120 créditos semestrais para transmitir esse conhecimento, explica Cody Patterson, professor assistente de matemática na Texas State University e integrante da equipe que trabalha no relatório Mathematical Education of Teachers III, sobre o desenvolvimento profissional de professores de matemática da educação básica.
Futuros professores podem chegar com uma visão limitada do que significa ser bom em matemática, afirma Patterson.
A escola precisa superar as autopercepções dos alunos e convencê-los de que continuar aprendendo matemática ao longo da carreira é vantajoso, além de ampliar sua noção sobre o que significa aprender e aplicar matemática. Não se trata apenas de memorizar fatos ou resolver algoritmos com lápis e papel, mas também de buscar padrões e conexões com outros conceitos e com o mundo real. Mostrar isso aos professores pode aumentar sua confiança e interesse pela matemática — e melhorar o ensino.
Essa também é uma missão assumida por orientadores pedagógicos depois que o professor entra em sala. No ensino fundamental, muitos docentes carregam traumas ou medos da matemática adquiridos na própria formação. É por isso que alguns desses orientadores se autodenominam “terapeutas de matemática”. A função deles é romper o ciclo da ansiedade matemática que se transfere do professor para os alunos.
No fim das contas, o relatório do National Council on Teacher Quality recomenda que os programas dediquem 150 horas de instrução ao conteúdo e à didática da matemática. Programas que não conseguirem incluir esse tempo deveriam exigir testes de conhecimento matemático. O objetivo é garantir que os professores tenham domínio do conteúdo e prática suficiente em como ensiná-lo.
Nem todos acreditam que isso seja o bastante.
É um passo na direção certa, diz Yasemin Copur-Gencturk, professora associada de educação na Universidade do Sul da Califórnia. Mas ela teme que separar conteúdo matemático da didática esteja desconectado das pesquisas mais recentes.
Acrescentar carga horária focada no conteúdo é importante, mas os professores frequentemente têm dificuldade para entender como ensinar esse conteúdo de forma que faça sentido para os alunos. Saber algo não é o mesmo que saber ensinar, diz ela — isso é mais complexo.
O relatório observa que, embora os programas possam integrar conteúdo e didática, é comum que os melhores cursos ofereçam três disciplinas focadas em conteúdo e apenas uma de didática. Mas Copur-Gencturk duvida que uma única aula sobre pedagogia seja suficiente para preparar professores para a realidade da sala de aula.
Ensinar matemática com eficácia exige compreender onde os alunos normalmente têm dificuldades, bem como dominar as ferramentas pedagógicas que os ajudam a superá-las. Isso varia de acordo com o conteúdo: ensinar pensamento algébrico é diferente de ensinar números e operações. Por isso, separar conteúdo e didática, segundo ela, é problemático.
Patterson, da Texas State University, concorda que integrar conteúdo e pedagogia é essencial. Há um consenso crescente de que não deve haver um lugar para aprender matemática e outro, separado, para aprender como ensiná-la.
Patterson também acredita que cursos integrados que ensinam a construir aulas com base no conteúdo podem resolver outro problema. Quando os professores passam por formações em matemática, muitas vezes não conseguem aplicar o que aprenderam em sala. A experiência pode ser positiva e até aumentar a confiança do professor, mas não fica claro como esse conhecimento se transfere para a rotina da escola, onde a matemática é apenas uma entre várias disciplinas a serem ensinadas no dia a dia.
A queda nas habilidades matemáticas é um problema nacional, observa Copur-Gencturk.
“Existe, sim, uma ansiedade e um evitamento da matemática por parte dos professores do ensino fundamental, mas não podemos culpá-los”, diz ela, acrescentando que o sistema educacional não mostra como as ideias matemáticas se conectam nem como a matemática se relaciona com a vida real.
Em vez disso, os alunos apenas inserem números em equações sem entender o que aquilo significa ou por que é útil, explica.
Se o aumento da carga horária para o ensino de matemática vier acompanhado de melhores condições de trabalho e salários mais altos, ela acredita que haveria um incentivo para que os professores aprofundassem seu conhecimento — e assim poderíamos romper esse ciclo.
Copyright © Direitos Reservados por Learnbase Gestão e Consultoria Educacional S.A.
Contato
contato@learnbasek12.com.br