Almoços em silêncio, restrições ao uso do banheiro e mandar toda uma fila voltar para refazer o percurso são algumas situações que presenciei nas escolas enquanto adultos tentavam estabelecer ordem. É bem provável que você, ao trabalhar em uma escola, educar filhos ou cuidar de crianças, também tenha se visto praticando alguma forma de punição coletiva.
Isso acontece quando estamos cansados, frustrados com a repetição constante de orientações ou desmotivados com resultados diferentes dos que planejamos.
Embora exista uma grande quantidade de dados sobre a ineficácia das punições coletivas e inúmeros artigos que orientam como liderar a sala de aula com positividade e organização, ainda assim é provável que, em algum momento, você caia na tentação de tomar essa decisão.Porém, logo após cometer o erro que você sabia que não deveria cometer, surge uma grande oportunidade – um verdadeiro presente que nasce justamente desse equívoco: a chance de recomeçar e mostrar às crianças como promover uma mudança real. É possível demonstrar aos alunos como reconhecer um erro, enfrentá-lo abertamente e seguir em frente. Afinal, a escola deve ser um espaço onde todos possam errar com a segurança de que estão caminhando constantemente em direção à versão que desejam alcançar de si mesmos.
Para que isso aconteça, é importante entender que, ao admitir um erro, não estamos retrocedendo nas ações, mas avançando como pessoas. Confira como você pode ser o educador que deseja, enquanto demonstra compaixão consigo mesmo.
Antes de recorrer a punições coletivas, geralmente há a chance de abordar a situação problemática antes que ela saia de controle. Nesses momentos, é possível utilizar o sistema de expectativas previamente estabelecido com a turma e mobilizar as relações positivas que você construiu com os estudantes. Outra estratégia é utilizar o próprio corpo como fator de influência por proximidade, aproximando-se discretamente do aluno que está prestes a causar a perturbação e estabelecendo um diálogo em tom acolhedor. Caso necessário, busque suporte de outros profissionais da escola, especialmente se você sentir que outra pessoa pode estar mais apta para ajudar aquele estudante específico naquele momento.
Pare, respire, observe e reflita. Qual é a expectativa que não está sendo cumprida? Quem não está cumprindo? Esse comportamento está realmente prejudicando o grupo ou apenas influenciando sua percepção sobre o desempenho dos alunos? Analise calmamente. Caso o comportamento esteja afetando principalmente como você se sente, e não necessariamente prejudicando toda a turma, decida se vale a pena abordar a situação naquele instante ou posteriormente, individualmente. Você pode optar por valorizar aqueles que estão cumprindo as regras naquele momento, evitando punições coletivas que acabam por prejudicar toda a turma.
Nessas situações, siga o sistema de Intervenções e Suportes Comportamentais Positivos (PBIS – Positive Behavioral Interventions and Support), clique para conhecer este referencial) da sua escola ou seus valores essenciais. Caso a escola adote uma abordagem deste tipo, aproveite para reforçar positivamente os alunos que estão atendendo às expectativas, relacionando as ações deles aos elogios específicos previstos no método. Se houver valores compartilhados na instituição, mencione-os e relacione-os às ações positivas dos alunos. Dessa forma, você evidencia os comportamentos positivos que ocorrem em sala e não dá visibilidade aos comportamentos inadequados.
Outra estratégia eficaz é interromper o comportamento inadequado trocando a atividade. Dependendo da gravidade da perturbação, altere a dinâmica sem expor publicamente um aluno específico ou atribuir culpas, evitando declarações como “precisamos parar porque João não está cumprindo as regras”. Uma mudança sutil de atividade pode ser suficiente para restaurar o equilíbrio da turma.
Pare e respire. Se perceber que acabou de anunciar uma punição para toda a turma, reconheça imediatamente que cometeu um erro. Você agiu de forma contrária ao que defende e sabe que esse tipo de ação não está alinhado às boas práticas educativas. Não se culpe excessivamente. Respire fundo e interrompa imediatamente essa ação. Seja qual for a ameaça anunciada (segurar a turma após o horário ou tirar o intervalo), você pode sempre optar por corrigir sua decisão.
Fale abertamente com a turma e explique o que ocorreu. Exemplifique sua tomada de decisão para os alunos, utilizando estratégias de “pensar em voz alta”. Reconheça publicamente o erro: “Pessoal, desculpem-me. Eu estava frustrada e tomei uma decisão incorreta. Não é justo aplicar uma consequência a todos, se apenas uma ou duas pessoas não cumpriram as expectativas. O erro foi meu.”
Demonstrar aos estudantes a capacidade de interromper uma decisão inadequada já em andamento é uma poderosa lição sobre crescimento pessoal, especialmente significativa para estudantes do ensino fundamental e médio. Ao agir assim, você mostra aos alunos que nunca é tarde para tomar decisões mais justas e adequadas. Essa atitude de transparência e vulnerabilidade fortalece o vínculo com os alunos, que perceberão que o professor também é humano e está sujeito a erros.
Ajuste sua postura e comunique à turma. Depois de reconhecer o erro, explique o que será feito diferente a partir daquele momento e realize a mudança imediatamente. Se possível, converse individualmente com os alunos que não atenderam às expectativas em outro momento, de forma discreta e acolhedora. Reforce aos estudantes que seu objetivo nunca é expor ou envergonhar alguém, mesmo aqueles que cometeram erros. Após essa etapa, retorne às atividades previstas.
Estruturas claras e sólidas são essenciais para a construção da comunidade escolar que desejamos oferecer aos alunos, mas elas só têm significado pleno quando acompanhadas de confiança e relações saudáveis. Para construirmos uma relação de confiança verdadeira, precisamos ser honestos e vulneráveis. Nada é mais honesto e impactante do que um educador que se posiciona diante da classe, admite um erro, ajusta seu comportamento e demonstra abertamente que está sempre em busca de ser a melhor versão de si mesmo.
Clique aqui e leia o artigo original no site da Edutopia!
Saiba mais em: https://porvir.org/gestao-turma-sem-punicao/
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